Elementos para a reconstrução do padrão de marcação pessoal em Proto-Macro-Jê

[Trabalho apresentado no 52o. Seminário do GEL (Grupo de Estudos Lingüísticos do Estado de São Paulo), ocorrido em Campinas de 29 a 31 de julho de 2004]

Estudos recentes apontam várias evidências morfológicas para o relacionamento genético entre os supostos componentes do tronco Macro-Jê, incluindo semelhanças entre os morfemas marcadores de pessoa (Rodrigues 1986), a existência dos chamados prefixos relacionais (Rodrigues 1994, 2000) e a existência de marcadores de posse indireta (Rodrigues 1992) em várias línguas do tronco. Estes estudos, no entanto, padecem de dois problemas que tornam as evidências menos convincentes: (i) raramente se oferecem correspondências fonológicas e lexicais que corroborem as evidências morfológicas; (ii) tais estudos se caracterizam por uma abordagem fragmentária, de tal forma que categorias que são claramente relacionadas paradigmaticamente (como os três exemplos mencionados acima — marcação de pessoa, prefixos relacionais e marcadores de posse indireta) são geralmente tratadas isoladamente.

Integrando os três tipos de evidências morfológicas mencionados acima (corroboradas, sempre que possível, por evidências lexicais), o presente estudo propõe uma reconstrução do padrão de marcação pessoal em Proto-Macro-Jê, com base principalmente em dados das famílias Jê, Ofayé, Krenák, Karirí e Maxakalí. Além de descrever as características do padrão de marcação pessoal em Proto-Macro-Jê (compartilhado, aparentemente, por nomes, verbos e posposições), este estudo analisa os processos diacrônicos que teriam contribuído para obscurecer (ou eliminar) tal padrão nas línguas atuais — incluindo processos fonológicos (como em Kayapó, onde a consoante do prefixo de terceira pessoa se toma zero), morfológicos (como a reanálise de antigos prefixos, em Kaingáng, como parte da raiz) e tipológico-gramaticais (como eliminaçáo da distinção entre nomes obrigatoriamente possuídos e opcionalmente possuíveis em Karajá). Por fim, um provável cenário para a origem dos prefixos relacionais em Macro-Jê, envolvendo processos de sândi entre raízes começadas por vogal e seus determinantes, será brevemente discutido.

Este site é melhor visualizado com senso crítico. © 2009-2011 Eduardo R. Ribeiro