[Texto de apresentação da mesa redonda organizada por mim para o II Encontro Nacional do GELCO]
Esta mesa discutirá as características dos chamados 'sujeitos cindidos' em diversas línguas Tupi, Karíb e Macro-Jê, avaliando a hipótese de que sistemas cindidos de marcação de caso, em várias línguas do complexo Tupí-Karib-Jê, podem ser descritos antes como um epifenômeno (resultados de processos de nominalização, por exemplo), do que como uma característica gramatical profunda. Uma breve análise do Apinajé (Jê), por exemplo, sugere que o sistema de marcação ergativa, que ocorre apenas em contextos de subordinação, teria se desenvolvido a partir de construções nominalizadas, uma vez que o padrão ergativo ocorre sempre com os chamados 'verbos longos' - que 'coincidem' com formas nominais dos verbos. Mesmo em línguas Jê em que o padrão ergativo tem distribuição mais ampla, o fato de que a construção ergativa requer os chamados verbos longos pode sugerir uma origem nominal. Não por acaso, as construções 'finitas' que apresentam um padrão ergativo são comumente descritas como apresentando significados participiais ou afins. Se esta hipótese estiver correta, sistemas cindidos nestas línguas teriam um caráter 'acidental', não diferindo muito da situação descrita por Sérgio Meira e Spike Gildea para a família Karíb. E, ao lançarem-se suspeitas sobre os prolíficos 'sistemas cindidos' em Macro-Jê, objeções semelhantes poderiam ser levantadas com relação a línguas Tupí em que padrões ativo-estativos tenderiam a ocorrer justamente em construções de caráter nominal. Promovendo o intercâmbio de idéias entre especialistas em diversas línguas Tupi, Karíb e Macro-Jê, esta mesa pretende dar início a um esforço comparativo para identificar eventuais semelhanças morfossintáticas entre os três troncos e discutir critérios mais sólidos para a classificação tipológica destas línguas, no que diz respeito a padrões de marcação de caso.
[Resumo publicado na página 70 da programação do evento]