[Comunicação apresentada no VII Encontro Macro-Jê, Brasília, outubro/2010]
O Karajá, falado ao longo do Rio Araguaia (Estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará), foi uma das últimas línguas a serem incluídas no tronco Macro-Jê (Davis 1968), embora semelhanças lexicais com línguas Jê já tivessem sido mencionadas no final do século XIX (Ehrenreich 1894). Como a história de sua classificação tardia sugere, as semelhanças entre o Karajá e as demais línguas incluídas no tronco são, à primeira vista, muito pouco óbvias (resultado, presume-se, de uma profundidade temporal maior do tronco Macro-Jê, quando comparado a agrupamentos mais bem estabelecidos, como o tronco Tupí). Além do alto grau de diferenciação interna no tronco Macro-Jê , a detecção de prováveis cognatos era então dificultada pela falta de um conhecimento aprofundado do léxico e da morfologia Karajá e pelo caráter ainda incipiente da reconstrução do Proto-Jê (Davis 1966).
Baseando-se em avanços recentes na reconstrução do Proto-Jê (Ribeiro a sair), bem como em uma descrição mais aprofundada do Karajá, o presente trabalho apresenta evidências adicionais para o parentesco genético entre o Karajá e a família Jê (bem como outras famílias pertencentes ao tronco Macro-Jê). Em grande parte, os cognatos adicionais (tanto lexicais, como morfológicos) corroboram as correspondências sugeridas por Davis; em outros casos, os novos dados permitem uma reelaboração ou refinamento de tais correspondências, ou a detecção de correspondências antes despercebidas. No que diz respeito à morfologia, um dos resultados mais dignos de nota do estudo histórico-comparativo é a explicação diacrônica para o surgimento de uma peculiaridade morfológica do Karajá: a existência de um infixo substitutivo, -r-, desenvolvido a partir de um sufixo derivacional com cognatos na família Jê.
Referências bibliográficas:
Davis, Irvine. 1966. Comparative Jê phonology. Estudos Lingüísticos: Revista Brasileira de Lingüística Teórica e Aplicada, vol. 1, n. 2, p. 10-24.
Davis, Irvine. 1968. Some Macro-Je Relationships. International Journal of American Linguistics, Vol. 34, No. 1 (Jan., 1968), pp. 42-47.
Ehrenreich, Paul. 1894. Materialien zur Sprachenkunde Brasiliens: I. Die Sprache der Caraya (Goyaz). Zeitschrift für Ethnologie, 26.20-37, 49-60.
Ribeiro, Eduardo R. (a sair). A reconstruction of Proto-Jê (and its consequences for the Macro-Jê hypothesis).