[Trabalho inscrito para o VI Encontro Macro-Jê (Goiânia, novembro de 2008), mas não apresentado]
Este trabalho discute avanços recentes nos estudos comparativos do tronco Macro-Jê e suas possíveis conseqüências para teorias sobre o provável local de origem do Proto-Macro-Jê. De acordo com a classificação mais conhecida do Macro-Jê (Rodrigues 1986, 1999), o tronco se comporia de doze famílias: Jê, Maxakalí, Krenák, Kamakã, Puri, Karirí, Iatê, Karajá, Boróro, Ofayé, Rikbaktsá e Guató. A maioria das famílias do tronco estaria, assim, a leste do Rio Araguaia, o que sugeriria o leste brasileiro como um provável local de origem do Proto-Macro-Jê. Como observa Urban (1998:91), "esta [a parte leste do Brasil] poderia ser a zona de origem do Macro-Jê, uma especulação que poderia ser iluminada por reconstruções das relações internas entre as famílias Macro-Jê nesta área (Maxakali, Botocudo, Puri e Kamakã). Se forem apenas remotamente relacionadas umas às outras, esta seria uma área de grande diversidade lingüística para o grupo Jê e, assim, um possível local de dispersão ocorrida há 5 ou 6 mil anos."
No entanto, estudos recentes (Adelaar 2005, Ribeiro & van der Voort a sair) demonstram que as famílias Chiquitano (Bolívia e MT) e Jabutí (Rondônia) devem, de fato, ser incluídas no tronco Macro-Jê. Isto, somado à possibilidade de que pelo menos algumas das famílias orientais do Macro-Jê podem formar um subgrupo genético (Ribeiro 2007), sugere a plausibilidade de uma hipótese oposta àquela levantada por Urban: a de que a origem do tronco Macro-Jê estaria, afinal, no oeste do Brasil — muito possivelmente no velho "Matto Grosso" (MT, MS e RO), onde estariam pelo menos cinco famílias extremamente distintas entre si: Ofayé, Boróro, Rikbaktsá, Jabutí e Chiquitano (a família Karajá que, apesar de se concentrar na margem direita do Araguaia, tem falantes também na margem esquerda, poderia ser acrescentada a esta lista). Esta hipótese, caso correta, teria implicações interessantes para a compreensão dos movimentos populacionais na América do Sul pré-colombiana em geral, e, em particular, para a hipótese de relacionamento genético entre Tupí, Karib e Macro-Jê, proposta por Aryon Rodrigues (1985, 2000).
Referências:
Adelaar, Willem. 2005. Relações externas do Macro-Jê: O caso do Chiquitano. A sair in Stella Telles (editor), Atas do V Encontro Macro-Jê. Recife: UFPE.
Ribeiro, Eduardo Rivail. 2007. Eastern Macro-Jê: a hypothesis on the internal classification of the Macro-Jê stock. Unpublished manuscript.
Ribeiro, Eduardo Rivail & Hein van der Voort. A sair. Nimuendaju was right: the inclusion of the Jabutí language family in the Macro-Jê stock. International Journal of American Linguistics (special volume on historical linguistics in South America, edited by Spike Gildea and Ana Vilacy Galucio).
Rodrigues, Aryon Dall'Igna. 1985. Evidence for Tupi-Carib relationships. South American Indian Languages: Retrospect and Prospect, ed. Harriet E. Manelis Klein and Louisa R. Stark, pp. 371-404. Austin: University of Texas Press.
———. 1986. Línguas Brasileiras: para o Conhecimento das Línguas Indígenas. São Paulo: Edições Loyola.
———. 1999. Macro-Jê. The Amazonian languages. Cambridge Language Surveys, ed. Robert M.W. Dixon and Alexandra Y. Aikhenvald, pp. 165-206. Cambridge: Cambridge University Press.
———. 2000. ‘Ge-Pano-Carib’ x ‘Jê-Tupí-Karib’: sobre relaciones lingüísticas en Sudamerica. Actas del I Congreso de Lenguas Indígenas de Sudamérica, Tomo I, ed. Luis Miranda, pp. 95-104. Lima: Universidad Ricardo Palma.
Urban. Greg. 1998 [1992]. A história da cultura brasileira segundo as línguas nativas. História dos Índios no Brasil (2nd edition), ed. Manuela Carneiro da Cunha, pp. 87-102. São Paulo: Companhia das Letras.